domingo, 8 de agosto de 2010

Primeira memória

A memória mais recente é a tua. Mais recente, mais presente. Memórias de alguém que nunca existiu. Depósito de sonhos e anseios que se foi. Minha tela congestionada de vivas cores por ti vistas em tons cinzentos. Tantos eram os tons que passaria uma vida buscando em camadas a perfeição. Não posso mais ser teus olhos. Sobramos eu, as tintas e uma tela caída do quinto andar. Usada, quebrada e borrada. Ao fundo, uma parede desbotada marcada pelo tempo. É necessário respirar e lavar as mãos. Toques distorcidos de onde parei. Palavras vazias e a transparência das cores não mancham mais e então sigo as preces do esquecimento. Um dia, serão apenas lágrimas na chuva confundindo a razão da gênese de meu existir, meu elixir.
Que esta primeira fase não se confunda com a última, pois aqui está a sombra e a penumbra enquanto lá paciente espero a luz, que mesmo fraca nascendo do prenúncio da manhã te esconda aos poucos até que a forma se ache real e concreta, pois as sombras nos confundem, nos iludem e nos agonizam. Perturbações de um outro lugar.
É assim que pensamos e criamos nossas realidades. Junto às nossas próprias sombras. Difuso, difícil e confuso. Bem aventurado àquele que pensa à razão de sua luz divina, fusão das infinitas paralelas à uma única idéia, aquela a que veio a ser única e definitiva. Não deixe que tuas sombras tomem conta de você. Vasculhe fundo e ache a luz da sabedoria e da razão neste baú de retalhos que somos nós. No final será sábio aquele que escolher o chapéu ou a peneira ante a luz que cega e queima?

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