quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Amálgama

É disso que eu quero falar. Daquele universo onírico que é o sonho. Um mundo fundido de todos os que conhecemos e em constante mutação. Uma hora estamos aqui, outra ali. Estou falando com um amigo que já se transforma em outro. Meu cachorro personificado, os sentidos aguçados, um teto nos céus. O insólito. Eu quero falar dela, a amálgama dos sonhos, o que transforma e se muta e dá vida ao irreal.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O Olho do Furacão

Foi uma viagem de bate-e-volta. Daquelas em que você resolve tudo em cima da hora e quando vê, já está sozinho num assento na janelinha próxima às mais belas nuvens, diferenciadas em camadas e colorações escondendo o verde lá de baixo, entrecortado por pequenas linhas reluzentes que jaziam caudalosos rios e agora, fios de cabelos dourados embelezando a vista que se encontra no infinito horizonte...
Ao descer, o tempo urgia ante tamanhas opções de entretenimento a bel prazer. fiz uma trilha rumo ao coração de uma mata aparentemente virgem e densa. Passando por umas pontes feitas de corda apodrecida, chegara à beira de um abismo descomunal. Tamanha vertigem fez-me voltar e só recuperar a coragem depois de alguns bons passos retrocedendo. Ao me ver sozinho enquanto pessoas mais velhas e mais novas que eu, teoricamente mais despreparadas, seguiam aquela trilha, deixei o medo de lado e voltei. Era lindo! Se o celestial existisse, seria ali o mais próximo que chegaria tamanha beleza. Podiam-se ver nuvens abaixo, o vento uivava forte e nas orelhas, um barulho de esmagar papel; as pernas bobas com a força empregada buscando apoio nas cordas e cipós que por ali estavam aos montes. Era uma imagem surreal quando via todas aquelas pessoas presas e emaranhadas pelas cordas, no ar flutuando ao contemplar a bela visão que dali fazia-se valer toda uma vida. Um verde pulsante pelas sombras que as nuvens empregavam e um rio de azul vivaz, ambos se perdiam na névoa que se formava longe, onde o horizonte se confundia com o céu e talvez o mar.
Algumas horas extasiado volto-me à um campo onde pessoas tomam sol e comem qualquer coisa para passar o tempo e desfrutar aquela natureza tão exuberante. Estico uma toalha. Não tenho fome. Apenas deito e percebo as mulheres se bronzeando com suas roupas de tomar sol diferenciadas e coloridas. De repente algo aperta o peito, desce para o estômago e gela ao mesmo tempo barriga e espinha. O sol tão lindo se põe rapidamente e o dia vira noite em um infinitésimo de segundo. Sussurros por toda parte, o pânico se instala, a sombra se vai, o sol volta a tocar os verdes campos porém ao fundo, vindo de onde era o abismo via-se um enorme e violento furação, formado em poucos segundos, todo marrom escuro e vorazmente faminto se alimentando de tudo em sua volta. Ele vem em nossa direção e todos corremos buscando algum abrigo. Parece inútil correr perante tamanha força da Natureza. O dia já virou noite novamente, portas e janelas batem na vila mais próxima, roupas voam desgovernadas, folhas e poeira dançam uma sinfonia aérea. Eu corro e alcanço um igreja que mais parece ter saída da Idade Média e antes de entrar eu viro de costas e percebo que o olho do furacão nada mais é que um homem de manto marrom rodopiando serenamentee intencionalmente almejando o meu ser. Ele se aproxima rapidamente enquanto eu fecho a pesada porta da igreja e tudo se escurece à minha volta então eu penso, que mundo é este em que estou preso? Fanntástico mundo meu? Em sonhos ou não, eu já estive lá. Eu sei que já....

domingo, 8 de agosto de 2010

Primeira memória

A memória mais recente é a tua. Mais recente, mais presente. Memórias de alguém que nunca existiu. Depósito de sonhos e anseios que se foi. Minha tela congestionada de vivas cores por ti vistas em tons cinzentos. Tantos eram os tons que passaria uma vida buscando em camadas a perfeição. Não posso mais ser teus olhos. Sobramos eu, as tintas e uma tela caída do quinto andar. Usada, quebrada e borrada. Ao fundo, uma parede desbotada marcada pelo tempo. É necessário respirar e lavar as mãos. Toques distorcidos de onde parei. Palavras vazias e a transparência das cores não mancham mais e então sigo as preces do esquecimento. Um dia, serão apenas lágrimas na chuva confundindo a razão da gênese de meu existir, meu elixir.
Que esta primeira fase não se confunda com a última, pois aqui está a sombra e a penumbra enquanto lá paciente espero a luz, que mesmo fraca nascendo do prenúncio da manhã te esconda aos poucos até que a forma se ache real e concreta, pois as sombras nos confundem, nos iludem e nos agonizam. Perturbações de um outro lugar.
É assim que pensamos e criamos nossas realidades. Junto às nossas próprias sombras. Difuso, difícil e confuso. Bem aventurado àquele que pensa à razão de sua luz divina, fusão das infinitas paralelas à uma única idéia, aquela a que veio a ser única e definitiva. Não deixe que tuas sombras tomem conta de você. Vasculhe fundo e ache a luz da sabedoria e da razão neste baú de retalhos que somos nós. No final será sábio aquele que escolher o chapéu ou a peneira ante a luz que cega e queima?

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Escolhendo o título

Como é difícil escolher do que se quer falar, quando se quer falar de tudo um pouco. A dualidade da vida já começa aqui. Um pouco de tudo ou tudo de nada ? Tudo é muito. É uma tarefa inalcançável, um horizonte que se curva ao infinito. Falarei de tudo sim; tudo que vier à alma e dela tornar-se devaneios em forma de palavras. Serão memórias. Uma tentativa de explicar esse mundo em que vivo, tão meu, mas que também poderia ser tão teu. Falar de mim é falar dos anseios presentes em cada um de nós. É ir em busca de significados e compreensão daquilo que definiram de "eu". O problema das definições é que uma vez definido o objeto de estudo ou do que se quer falar, não mais se contesta. Dá-se como dito e pronto. Estou aqui para ir contra ao certo, àquilo que pra mim é de fato diferente do dado como certo . Estou aqui para exprimir a alma de forma a registrar um pouco desse "eu". Não há lugar aqui para definições, pois não lido com o real ou com o imaginário. Lido com realidades que vez ou outra se conflitam, mas que no final, têm suas peculiaridades e relevâncias em construir aquilo que chamaram de vida. Sim, serão memórias de um mundo meu.